Ar rarefeito e aclimatação

A composição do ar é de aproximadamente 78% nitrogênio, 21% oxigênio e o 1% restante é composto de vapor de água, dióxido de carbono, metano e outros gases. Todos esses elementos estão confinados em uma camada da atmosfera chamada troposfera, que se estende da superfície do planeta até a base da estratosfera, tendo uma espessura que varia de 17 km nos trópicos a 7 km nos pólos. Todo esse ar tem um peso na superfícia do planeta, e embora a concentração de O2 no ar permaneça praticamente a mesma (21%) tanto ao nível do mar como a 8000m de altitude, a pressão diminui na medida que a altitude aumenta, devido ao peso do ar ser menor nas altitudes elevadas (menos ar em cima).

Com a diminuição da pressão atmosférica, o ar vai se tornando rarefeito, menos denso, e o número de moléculas de O2 disponíveis por metro cúbico diminui. Ou seja, não é que exista menos oxigênio no ar, mas sim menos ar no ambiente. Conseqüentemente, menos oxigênio disponível para ser respirado.

Com menos oxigênio entrando nos pulmões, a hemoglobina presente no sangue não consegue transportar a quantidade necessária de oxigênio para manter o equilíbrio das funções fisiológicas do corpo. O montanhsita Antonio Paulo Faria escreve no seu livro Montanhismo Brasileiro – Paixão e Aventura: "No nível do mar a hemoglobina pode transportar 19,5 ml de oxigênio em cada 100 ml de sangue; a 3000m de altitude a mesma quantidade de hemoglobina só consegue transportar 18,5 ml para cada 100 ml de sangue, ou seja, só há 95% de oxigênio disponível; a 8000m a mesma quantidade de hemoglobina só consegue transportar 8,5 ml para cada 100 ml de sangue."

Na privação de oxigênio, o corpo humano entra em um estado conhecido como hipoxia. É imprescindível uma adaptação a esse novo ambiente para sobreviver, e este processo de adaptação é conhecido no montanhismo como aclimatação. Nos primeiros dias em altitude, os rins, órgãos extremamente sensíveis à química do sangue, reagem secretando um hormônio conhecido como EPO (Eritropoietina), que aumenta a produção de glóbulos vermelhos na corrente sanguínea e a capacidade muscular. Os rins também mandam mais água para a bexiga, que sai na forma de urina, fazendo com que o corpo elimine uma quantidade maior de fluídos. Essa diurese, e o aumento de células vermelhas, torna o sangue mais espesso, o que pode em alguns casos interferir na irrigação de vasos mais finos, normalmente encontrados nas extremidades (circulação periférica).

Nesse aspecto, o escalador Maurício Clauzet coloca: "A hidratação é fundamental, não exatamente ao processo de aclimatação, mas à reação do corpo ao aclimatar. O aumento de hemácias torna o sangue mais espesso, viscoso, e isso prejudica a irrigação das extremidades e tecidos muito capilarizados, facilitando o congelamento dessas partes."

Samantha Chu acrescenta: "a hidratação é essencial, pois com o frio as pessoas sentem menos necessidade de ingerir água, correndo maior risco de se desidratar, o que acontece em lugares frios independentemente da altitude. As pessoas não sentem sede porque não sentem calor mas continuam transpirando e perdendo água através da respiração e transpiração. Além disso deve-se lembrar que ingerimos uma quantidade significante de água através dos alimentos no dia-a-dia o que não acontece em altitude devido à natureza dos alimentos ingeridos, geralmente desidratados, liofilizados, etc, ou seja, sem água. E, especialmente em altitude, é essencial que o organismo tenha água para poder funcionar normalmente. O ideal é ingerir pelo menos os 3 litros/dia recomendados, porque perdemos água sem perceber."

Quando o corpo não consegue se aclimatar à altitude, seja por subir muito rápido, não dando tempo suficiente ao organismo para se adaptar, ou por outros fatores, inclusive genéticos, ou em situações onde o corpo está aclimatado, mas permanece exposto à altitude por um período muito prolongado, existe o risco da pessoa entrar em um estado conhecido como "síndrome de altitude", ou "mal da montanha", que nos casos mais extremos pode se agravar e levar a um edema pulmonar e/ou edema cerebral.
(Filippo Croso - Webventure)





Fonte:
www.zone.com.br

www.gentedemontanha.com

http://mundoestranho.abril.com.br